sábado, março 22, 2003

Olha só isso... vou colocar isso porque nosso blog soh tem verdade e não comentaram nada sobre a guerra... aqui acho que ja conta tudo e de uma visão... digamos que bem real... adoro vocês

BOMBARDEIO

Reportagem da Folha testemunha a "mãe de todos os ataques" americanos em Bagdá

Som do "Big One" é inesquecível

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ


A sequência é de uma rotina assustadora e de uma lógica insuportável, emprestada dos trovões e dos raios. Primeiro, um clarão que deixa toda a cidade iluminada, acompanhado da saraivada da bateria antiaérea, que pode muito pouco contra ele.
Então, uma grande explosão -o maior e mais inesquecível som já ouvido pelo repórter até hoje-, seguida do deslocamento de ar correspondente, que vem e volta com quase a mesma intensidade. Pequeno silêncio. Um fogo começa a subir ao céu em grandes línguas. Cede apenas para a fumaça preta, espessa.
Por fim, o grande silêncio insuportável, só quebrado pela próxima sequência, idêntica.
Foi assim o primeiro dia do "Big One", a mãe de todos os ataques, que começou na noite de ontem e promete deixar Bagdá de joelhos. Nem bem nos acalmávamos de uma explosão, vinha outra ainda maior, em lugar diferente. Enquanto escrevo este texto, são sete os lugares identificados como atingidos. Confinados ao hotel, os colegas mudamos de quartos em busca da melhor visão, enquanto outros correm para os abrigos antibombas.
Desta vez, o deslocamento de ar dos bombardeios, um deles entre 500 e 1.000 metros do local em que estamos, quebra vidros no caminho e deixa os cachorros e as pombas desesperados, aqueles correndo no meio das ruas vazias, estas voando até o topo dos edifícios, como se a medida realmente fosse dar mais segurança.
Duas mulheres, uma vestida de preto e outra de branco, ganham as calçadas rezando alto e mexendo a cabeça. Alarmes de carro disparados vão e voltam.

Clarão, explosão...
Durante o primeiro estouro, passado o susto inicial, o repórter fotográfico Juca Varella lembra de colocarmos os coletes antibalas e os capacetes. Nos corredores, encontramos outros jornalistas que fizeram o mesmo.
Logo, somos obrigados a entrar de volta no quarto e trancar as portas: oficiais da polícia secreta de Saddam Hussein, que ficam 24 horas por dia no saguão, começam a invadir alguns apartamentos selecionados ao acaso e levar embora câmeras fotográficas e de TV com imagens dos ataques.
Fazem isso no quarto ao lado e no da frente. Batem na nossa porta. De luzes apagadas, ficamos quietos. Mais três tentativas, e desistem. Lá fora, no alto, acaba de passar o que parece ser um caça, o primeiro desde que o conflito começou, não sabemos se de bandeira iraquiana ou norte-americana. Soa bem próximo e o barulho e o clarão (e o medo) levam o repórter ao chão. Depois que some no horizonte, o suposto avião deixa um rastro claro que demora para ir embora.
Temos de ir. São 22h50 e acaba de passar o segundo caça. Começa então a nova sequência: clarão, explosão...